quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Gilles de La Tourette




Tente agora mesmo se posicionar de frente ao vento e não piscar, fique o máximo de tempo que conseguir, claro que você sentirá um desejo incontrolável de piscar, chegará um momento em que seus olhos involuntariamente se fecharão. Agora concentre sua saliva próxima a sua garganta e deite, que vontade de engolir, né? Você experimentou por minutos a sensação agoniante mais próxima que um portador de síndrome de Tourette (ST) passa quase uma vida inteira constantemente. Não sou portadora da ST, costumo dizer que a possuo indiretamente, já que convivo com um portador há 6 anos. 


É uma síndrome neuropsiquiátrica rara, de nome lindo: Gilles de La Tourette, sem cura, pouco compreendida, agressiva e ignorada.


A ST tem como principal característica os tiques motores, espasmos e/ou vocalização, são movimentos involuntários musculares, é só nos imaginarmos sem o controle momentâneo do corpo. Para cada portador da ST, uma intensidade de tiques, enquanto uns se machucam pela violência dos seus tiques, outros parecem nem ter. A peculiaridade da ST não para por ai, ela desencadeia outras doenças como a depressão, sudorese (por causa dos tiques), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), insônia, ansiedade, pânico e outras possíveis. 


A síndrome, a qual eu “convivo indiretamente”, é vaidosa: quanto maior a plateia, maior a sua performance. Quanto maior seriedade do ambiente, maior sua inquietação. Quanto mais tempo se espera por algo, maior a impaciência. Os tiques e a tensão gostam de se revelar em momentos quando não são apropriados socialmente.
E como se não bastasse tanta doença, deve-se enfrentar um dos maiores e mais absurdos problemas sociais: o preconceito!

De fato, entendo o preconceito inicial. A ST não é do conhecimento de todo mundo. A primeira reação de quem vê e não sabe do que se trata, é achar graça, ter medo, pensar que é loucura, entre inúmeros pensamentos. Não os culpo pela ignorância inicial do que é desconhecido. Repudio os que insistem em ignorar, que fazem “vista grossa”, que evitam lidar com os problemas, que se afastam. Que fique bem claro, pena é um sentimento que deve ser descartado, um portador de ST precisa de respeito, compreensão, sinceridade e igualdade.

Embora um portador de ST tenha um mundo de problemas a se carregar, isso não o impede de trabalhar, estudar, casar, etc.... O que os impede de afazeres comuns é o preconceito da sociedade.
Tenho aqui exemplos de portadores da síndrome: o escritor Samuel Johnson e o jogador de basquete Mahmoud Abdul Rauf. Baseado em documentos históricos é discutido que Claudius, Napoleão, Molière e Mozart eram portadores da ST também.


Já me peguei pensando: E se as pessoas que conheço com ST, não tivessem a síndrome? A ST os moldou e determinou como seriam e como pensariam?

Os que eu conheço são pessoas maravilhosas, boas e especiais. Não se vê qualidades assim em todas as pessoas.  Existem alguns diferenciais bons, uma energia e um encanto que só quem convive sinceramente com um “touretico” sabe.


Eu espero que você não se limite ao que leu até aqui. Existe muito mais sobre Tourette. Com pesquisas no google e youtube você encontra muitas coisas. E para você que já conhece a ST, recomendo que divulgue esse texto e tantos outros relacionados, é uma forma de ajudar a acabar com o preconceito e a falta de informação.


Recomendo o livro “A maldição de tourette”, uma autobiografia de Giba Carvalheira. https://www.facebook.com/AMaldicaoDeTourette
http://www.riostoc.org.br/ Associação do Rio de Janeiro
http://www.youtube.com/watch?v=q6bLLKT1Wv4 Filme “Na frente da classe (front of the class)” dublado.