Uma coisa me intriga, nem tanto pela pergunta, mas como ela é
feita... ninguém diz: “vc tem time?”, mas sim: ”qual é o seu time?”. E quando
eu respondo que não torço pra nenhum, dão risadas ou usam meu sexo como justificativa.
Por algumas vezes para evitar explicações, dizia me simpatizar pelo botafogo,
errei feio, a explicação não poderia faltar.
Como se escolhe um time? O que se leva em consideração em uma escolha?
Procura-se primeiramente a individualidade buscando, contraditoriamente,
participar de um grupo onde o principal objetivo é torcer por homens que ganham
dinheiro se divertindo enquanto você fica mais pobre ao pagar o ingresso. No
final das contas, quem ganha é o mercado: técnico, locutor,
comentarista, fabricante de camisas, patrocinador, editor de álbuns de
figurinha, a tv e até o jornaleiro, o único que não ganha é você.
Trata-se de um esporte que estimula o fanatismo para benefício unicamente
próprio, uma fábrica que produz gente que, reconhecidamente, leva o futebol
mais a sério que os jogadores.
E isso resulta em brigas de torcidas “desorganizadas”. Enquanto os jogadores
saem de campo escoltados por seus seguranças, grupos rivais de torcedores se
enfrentam com violência nos estádios e fora deles. Violência essa que se
estende às redes sociais, que por sinal, inclui racismo, preconceito e ofensas de
todas as formas.
Terá sempre um torcedor que dirá: “sou torcedor, mas sou da paz”. É como
comprar droga e dizer que não financia o tráfico. Ser cúmplice te torna tão
violento quanto o agressor.
Nesse esporte, as regras são amplas apenas para os jogadores, eles
podem trocar de time, o torcedor pode trocar de mulher, de casa, de emprego, de
sexo, mas de time, não! Isso tem um nome: vira casaca.
A supervalorização midiática dos jogadores os tornam cada vez mais
ídolos das crianças. Na verdade, vários jovens sonham com esse universo
futebolístico, nascem, crescem e vivem pensando em sair da pobreza e ganhar
muito dinheiro, o estudo fica em segundo plano. Os clubes de futebol cada vez
mais investem nas categorias de base e para os jogadores sobram apenas migalhas
do montante financeiro envolvido. Uma triste e pobre cultura brasileira.
Queria gostar do que habitualmente se gosta. Reconheço que disso
se pode presumir em mim falta de brasilidade, mas como uma boa e típica
brasileira, sei o que me é inapropriado.